terça-feira, 31 de maio de 2016

Como preparar sua apresentação no congresso...



Decidi fazer um post porque considero que este seja um canal interativo e interessante pra discutirmos aspectos que ficam faltando em sala de aula, principalmente quando se tem um semestre comprometido por uns e outros maravilhosos feriados prolongados. Mas vamos ao que interessa...
Vocês devem estar super preocupados com a maneira que irão apresentar seus trabalhos e eu já aviso que não existe receita de bolo pro sucesso de uma apresentação que não seja conhecer muito sobre o assunto e apresentar este assunto de maneira sucinta e objetiva. Em outras palavras: Fale apenas o necessário.
Vamos lá...
Existem diferentes formas de comunicação científica, tanto escritas quanto orais. O pôster é um meio de comunicação VISUAL, por isso é fundamental preocupar-se sim com o design dele. Pense num produto que você não conhece, lá na prateleira do supermercado... Você tem dezenas de opções e não sabe qual escolher e de repente resolve levar o que mais te atrai pela aparência... O conteúdo do pacote é importante, mas num primeiro momento o que chamou a atenção foi o VISUAL.
A rigor, um pôster é um sumário e uma divulgação daquilo que foi pesquisado. É uma fonte de informação do trabalho realizado, complementada por sua apresentação oral.



Por conta disso, seguem abaixo algumas dicas para a elaboração de pôsteres científicos:
  • Tente ser efetivo na disposição visual dos dados. O pôster é um resumo ilustrado.
  • Mostre o que mais importa de sua pesquisa – o que foi realizado, como foi realizado e o que se recomenda ou se conclui. Evite enfocar os métodos. Os resultados e implicações são mais relevantes.
  • Utilize gráficos, figuras e textos, preferencialmente coloridos, bem distribuídos ao longo do pôster (evite número excessivo de cores).
  • Utilize títulos para destacar objetivos, resultados, conclusões etc. Organize em colunas as sessões para melhor visualização e leitura.
  • Minimize texto, use gráficos, figuras etc. Blocos de textos devem conter aproximadamente 50 palavras.
  • O texto deve ser visível a uma distância de dois metros, aproximadamente.
  • Planeje seu pôster com antecedência, escreva imediatamente a introdução e a metodologia, e lembre-se de rever o texto e suas ideias com o orientador e colaboradores.
  • Utilize para o título fonte 90 pts. negrito. Para os subtítulos utilize fonte 72 pts. Nesta área coloque: Título do plano de trabalho, Autores, e Departamento.
  • O restante do pôster deve conter: Introdução, Metodologia, Resultados, Conclusões e, se necessário, Agradecimentos. As Referências bibliográficas podem estar numa folha à parte, disponível para a audiência e/ou como forma de lembrança.
  • Textos auxiliares podem ser em fonte 18 ou 20 pts. Não esqueça de verificar a ortografia antes da impressão final.
  • Verifique o tamanho recomendado pelo congresso para o poster. Normalmente eles seguem o padrão 90cm de largura por 120cm de altura.
  • É obrigatório que o pôster seja confeccionado com cordão para pendurar.
  • Diminua número de textos, gráficos, figuras, etc., se o pôster parecer congestionado. Evite diminuir o tamanho da fonte como solução para congestionamento.
  • Use uma cor para título, introdução e conclusões, e uma segunda cor para o restante. Utilize uma terceira cor para destacar alguns resultados.





Pois bem, um pôster de grande formato nada mais é do que um grande pedaço de papel que serve para comunicar a sua pesquisa em uma conferência, geralmente composto de um título curto, uma introdução para a questão de pesquisa, uma visão geral de sua (nova) abordagem, os resultados relevantes em forma gráfica, alguma discussão esclarecedora dos resultados acima mencionados, uma lista de artigos previamente publicados que foram importantes para sua pesquisa e um breve reconhecimento da ajuda e apoio financeiro que você recebeu. Se todo o texto for mantido a um mínimo, uma pessoa pode (deve ser capaz de) ler totalmente o seu poster em menos de 5 minutos.

Embora você possa ​​comunicar todos os itens acima através de uma palestra de 15 minutos na mesma conferência, apresentar um poster permite que você interaja mais pessoalmente com as pessoas que estão interessadas em seu tópico. Posters também são úteis porque eles normalmente podem ser vistos mesmo quando você não está nas dependências do congresso, e até depois do término do evento, se você encontrar um bom prego e local onde possa pendurá-lo. Além disso, apresentar um poster é bastante recomendado se você não gosta de falar em público (evidência bastante comum nos congressos, de diferentes áreas).

Lembre-se que as sessões de pôsteres são recheadas de trabalhos interessantes da mesma área e com pessoas que trazem os trabalhos de outras instituições, portanto, invista no visual do seu painel pra ajudar a "chamar o público". Em algum momento você será obrigado a permanecer ereto ao lado do seu poster, aguardando que uma comissão avaliadora julgue a qualidade do seu trabalho. Por causa de todas essas situações, o poster precisa ser visualmente interessante se ​​você quiser atrair apreciadores ou telespectadores.

Se você é um posteiro de primeira viagem é de bom grado gastar alguns minutos navegando por posters disponíveis online, só para ver a diversidade de layouts que as pessoas têm usado. Além de uma pesquisa no Google Images (tente pôster congresso, por exemplo), navegue pela coleção de posters da Faculty of 1000 ou do PhD posters. Mas não imite tudo que você vê – a maioria dos posters na internet são horríveis e alguns são possíveis crimes contra a humanidade. Parte do problema é que a maioria das pessoas que acabam em disciplinas que exigem posters (hard sciences, engenharias, saúde, etc) nunca são devidamente treinadas na maioria dos conceitos básicos de tipografia, escolha de cores e layout de página.

Ao contrário de um artigo, um poster pode adotar uma variedade de layouts, que usam como base gráficos e fotografias. Na verdade, você provavelmente não quer que seu poster se pareça com qualquer outro poster na sala. Enquanto você manter o espaço em branco suficiente, os alinhamentos de coluna de forma lógica e fornecer pistas claras para seus leitores sobre como eles devem percorrer os elementos de seu poster, você pode e deve ser criativo.

Se você leu até aqui, merece ficar sabendo do meu maior mico em um congresso... Ok... Lá vai: 

Em 2011 fui a um congresso médico da área de psiquiatria em São Paulo... cheio de pesquisadores de ponta e, claro, meu orientador estava lá. Me lembro que na ocasião eu estava cheia de orgulho por ter sido aprovada no concurso da UFSCar pra vaga de docente temporária na Gerontologia (lá onde atualmente faço meu pós-doc). Enfim... eu cursava o primeiro ano do doutorado (portanto, se você pagar mico na graduação ainda estará no lucro) e estava trabalhando com doença de Alzheimer. No mestrado eu havia trabalhado com doença de Parkinson e o último congresso que eu havia participado, eu havia falado sobre o tema do mestrado. Ok. Tive a infeliz ideia de reaproveitar o Layout do meu painel anterior para este congresso, afinal pra mim tinha ficado tão bonitinho.... O único problema é que na correria eu inseri todos os elementos do texto, mas esqueci de mudar o título! Aí o jeito foi dobrar o título pra galera não achar que eu era a pessoa com Alzheimer! 


Trabalho de Alzheimer, no congresso de Alzheimer com titulo de Parkinson. Veio a calhar com tema do congresso. A galera nao entendeu que era tipo uma dinâmica de atenção e funções executivas (Só que não mesmo!!!!!!!!)


Seria cômico se meu orientador não estivesse lá e se ele não quisesse arrancar minha cabeça fora, por eu ter cometido um erro juvenil desses. Detalhe: Meu trabalho tinha chances de ser premiado se não fosse essa idiotice. No ano seguinte eu fui pro congresso e deu tudo certo... pelo menos não errei o título! 
Reunião de Pesquisadores da Doença de Alzheimer - Outubro/2013

Também teve uma vez que fui pela primeira vez montar um poster em ingles... Isso foi em 2004 eu acho! Eu fui escrever introdução no painel e, portanto, se eu tivesse consultado um dicionário saberia que deveria escrever Introduction... Mas eu resolvi escrever Introduce (o que muda todo o sentido em ingles, né?)... Enfim, erros acontecem, mas tentem minimiza-los com a ajuda de seus colegas e professores. 
Meu último pôster foi muito gratificante de apresentar e teve uma excelente aceitação pela comunidade científica... Neste eu não errei nada! Ufa!

Março/2015 - ADPD








quarta-feira, 11 de maio de 2016

COMO CONDUZIR E ELABORAR UMA PESQUISA DE REVISÃO DA LITERATURA

Resolvi fazer este post pra ajudar meus alunos a montarem uma pesquisa de Revisão pros seus trabalhos de conclusão de curso. E importante salientar pra vocês que, independentemente do seu delineamento experimental, realizar uma busca bibliográfica e redigir uma, ainda que breve, revisão da literatura é o que vai permitir que você demonstre ao seu leitor que existe um embasamento científico na questão que você decidiu estudar. Isto significa em outras palavras que o que você está estudando, faz sentido... Isso também te ajuda a demonstrar pro leitor sua justificativa - Porque eu escolhi estudar isso? De certa forma é aqui que você convence seu leitor de que vale a pena perder o tempo dele, lendo o seu trabalho. Isso é fundamental... Pensando assim, começar qualquer revisão precisa levar em conta os seguintes aspectos: 

Então basicamente, sua introdução e o seu referencial teórico devem permitir que:

1) O leitor conheça o CENÁRIO em que seu estudo se insere (Qual o contexto do seu problema de pesquisa)

2) Entenda a importância de ler o seu estudo (Por que eu devo ler este trabalho?)

3) Veja que existe uma questão intrigante e que vale a pena ler pra saber mais sobre aquilo.

4) Saiba que você tem conhecimento sobre o tema que resolveu investigar.

O que eu mais vejo ao longo destes anos de bancas é que os alunos acham que revisão da literatura = colcha de retalhos... e aí que vira um tal de ctrl + C e ctrl + V pra tudo que é lado... 



É importante lembrarem da funçao que tem uma REVISÃO DE LITERATURA: Responder a uma pergunta de pesquisa. É por isso que eu sempre peço que meus alunos definam os temas e depois tracem seus objetivos de pesquisa (Respondam pra mim o que eles querem estudar) pra depois começarmos a buscar os referenciais teóricos de onde vamos partir. Sim! Se vamos começar uma caminhada, precisamos saber onde é que queremos chegar pra saber a direção que precisamos seguir. Enfim... o que eu quero dizer com isso? Vem comigo....
Vamos supor que você selecionou sua pergunta de pesquisa e ela, em nossa área, muitas vezes será relacionada a questões práticas, ou seja, essa pergunta de pesquisa busca demonstrar e nortear tomadas de decisão pra tornar suas práticas profissionais e intervenções mais eficientes. Um exemplo clássico: "Qual o melhor tipo de exercício para emagrecer?" 
Se você for buscar referências para responder a esta questão (compleeeeeeeeeeeexa), provavelmente encontrará diversos trabalhos que concordam e/ou discordam entre si! Na maioria dos casos você vai buscar estudos práticos, ou seja, métodos que testaram lá na prática diferentes tipos de treinamento pra saber qual teve um resultado melhor, qual não funcionou, etc... Mas não seria sensacional encontrar esta resposta (o que é melhor) para sua pergunta de pesquisa (objetivos da sua pesquisa) em um único lugar? Foi pra isso que inventaram a REVISÃO DA LITERATURA. Este tipo de estudo busca compilar, juntar tudo num só texto sobre o que há de melhor e mais atual na literatura pra responder sua pergunta de pesquisa. Por isso, só te interessa o que está dentro da sua área de pesquisa, por isso é importante delimitar suas Palavras-Chave!

Quando você começa a ler os trabalhos, vai começar a encontrar diferenças entre os métodos que cada autor usou pra medir sua variável de pesquisa ou pra definir o desenho experimental do estudo e é isso que importa pra você... Porque se você não for capaz de inserir discussões sobre estas diferenças, nós voltamos ao problema da colcha de retalhos (que é o que eu odeio ler!) 



Aproveitando o exemplo lá de cima, esperamos que para o tema de emagrecimento e exercício citado anteriormente, suas considerações finais sejam capazes de nortear as intervenções de outros profissionais sobre as diretrizes para um melhor resultado (o que deve fazer e o que não deve fazer). Basicamente isso! 


Ao buscar as fontes de informação não se esqueça que estas devem trazer dados que foram METODOLOGICAMENTE TESTADOS e publicados. Ou seja, a opinião do coleguinha que tem um blog igual este, ou qualquer outra fonte de informação, aqui, pra nós, não servem como referencial teórico. O princípio básico é: Foi publicado? O local de publicação está indexado a alguma base de dados (Scielo, Bireme, PubMed, etc.)? Se a resposta for sim para as duas perguntas, vamos perder nosso tempo lendo... Se a resposta for não, você ainda tem uma opção... aproveitar a informação para buscar em algum lugar de confiabilidade (revistas indexadas em bases) e aí sim citar. Caso contrário, se a informação que você leu em algum lugar, não existir numa publicação indexada, esquece: É mentira, fofoca, boato... E por favor, não compartilhe nem no Facebook! Sendo assim, depois de buscar a informação você precisará escolher dentre estas fontes confiáveis, de onde vai extrair a informação.  Dê prioridade (nesta ordem) a:

(i)artigos publicados em periódicos internacionais;(ii)artigos publicados em periódicos nacionais reconhecidos(iii)livros publicados por bons editores;(iv)teses e dissertações,(v)anais de conferências internacionais;(vi)anais de conferências nacionais.

Além disso, opte sempre pelo referencial mais recente... Evidências científicas mudam. Quando eu estava na faculdade as pessoas diziam que tínhamos que fazer 60 minutos de esteira em intensidade moderada/baixa pra induzir a lipólise e recentemente Ross et al (2015) já demonstraram que exercício de baixa intensidade e longa duração não faz nada relacionado a diminuição de gordura corporal. Então como ficaria um TCC que trouxesse informações dos anos 90 em 2016? Como fica você, profissional, que não busca a evidência certa no lugar certo? Vai dar 3 X10 pro seu aluno achando que ele vai hipertrofiar? Vai mandar sua aluna fazer 1 hora de caminhada pra emagrecer? Entendeu a importância de embasar suas práticas em evidências científicas?

REFERÊNCIA

Ross R, de Lannoy L, Stotz PJ. Separate Effects of Intensity and Amount of Exercise on Interindividual Cardiorespiratory Fitness Response. Mayo Clin Proc. 2015 Nov;90(11):1506-14.