terça-feira, 4 de outubro de 2016

Açúcar: O vício consentido.

Quando falamos em dependência química sempre nos vem a cabeça as drogas ilícitas. Se eu falar em pó branco que ativa áreas de prazer do cérebro, obviamente pensamos em Cocaína. Uma droga muito poderosa, que gera descargas de neurotransmissores que nos fazem sentir prazer... muito prazer... Mas e se eu disser que você tem em casa uma droga que possui um poder de ativação de áreas de prazer no cérebro que pode superar em até nove vezes a cocaína em relação a te deixar dependente dela e que custa bem menos? Pois é! Os cientistas encontraram que o açúcar possui um potencial de ativar circuitos de prazer e recompensa por meio da liberação de dopamina e endorfinas de maneira similar ao que ocorre com a cocaína. 
No caso do açúcar, o mecanismo fisiológico faz com que nós queiramos cada vez mais e mais as calorias fornecidas por meio dele. Isso porque a glicose que vem do açúcar rapidamente sinaliza para a liberação de insulina. A insulina, por sua vez, sinaliza para inibir a oxidação de gordura (porque as gorduras são reserva! Se tiver açúcar disponível, o corpo prefere sempre usar o açúcar ao invés de "mexer na reserva"). Mas provavelmente você não irá gastar imediatamente toda a energia ingerida pelo carboidrato que você consumiu, então seu corpo irá iniciar o armazenamento desta "sobra"em forma de gordura (ou seja, você não gasta a gordura que já está estocada e ainda armazena mais a partir de qualquer forma de açúcar que foi consumida!). O papel da insulina liberada foi livrar sua corrente sanguínea de todo o açúcar que estava circulando, porque nosso corpo não lida bem com o açúcar no sangue... é uma substância bem nociva (haja visto os efeitos de uma glicemia alterada, principalmente em diabéticos e todos os problemas que isso causa!). Só que como consequência desta retirada do açúcar no sangue e do bloqueio da oxidação das gorduras pelo nosso organismo, nosso cérebro entende que o estoque de energia está se esgotando... E o que ele faz? Faz você sentir FOME... E aí você come mais! E quanto mais você come, mais alimenta esse ciclo.... Desta forma, você não está engordando porque come, mas você come porque está engordando. 

Mas pensa que o problema acabou aí? Claaaaaro que não! Nosso corpo funciona com mecanismos de feedback, ou seja,  se preciso de alguma substância para manter a homeostase, meu corpo é estimulado a produzí-la, mas se essa substância se encontra em abundância, o corpo irá produzir menos e ocorre uma dessensibilização de receptores, o que nos torna menos suscetíveis aos efeitos desta substância que está "sobrando". E é aí que o problema de dependência começa a acontecer... Você come cada vez mais, mas cada vez mais a sensação de prazer e saciedade promovida pelo alimento rico em açúcar vai ser mais rápida e menos intensa... fazendo com que você desenvolva comportamentos compulsivos. Por isso que alguns pesquisadores verificaram esta ativação semelhante no escaner cerebral de pessoas viciadas em cocaína e pessoas obesas. O indivíduo que tornou-se obeso, provavelmente sofreu esta alteração no cérebro e ela o fez comer descontroladamente, provocando a alteração na composição corporal. O problema de ganho de peso em obesos deixa de ser apenas metabólico e passa a envolver o sistema nervoso central. Tenso! 


Agora por último, uma questão beeeeeeeeeem perceptível: A dopamina é um neurotransmissor envolvido em circuitos límbicos, ou seja, aqueles que cuidam do nosso humor, emoções, etc... E eu falei ali em cima, que há uma dessensibilização de áreas cerebrais que recebem os sinais de prazer e bem estar proporcionados pela dopamina no sistema límbico. Então qualquer sensação de bem estar e prazer ficarão comprometidas... E a consequência disto será inevitavelmente uma alteração de humor e uma sensação de depressão, desmotivação... Então você come, sente fome, come mais, sente-se deprimido, sem energia e.... com mais fome! Aí come mais, e recomeça o ciclo... 
E isso explica porque é que nós quando nos descuidamos um pouquinho e começamos a comer descontroladamente, some a vontade de ir ao treino, some a vontade de tudo e ficamos inertes, sem ânimo e sem vontade de nada... E se nada quebrar este ciclo, tendemos a mergulhar nele, porque ele é altamente viciante. 

Em contrapartida, alimentos com baixo índice glicêmico fazem com que a liberação de insulina seja lenta e gradativa e, sem estes picos, não há o armazenamento de calorias como gordura e nem uma esta liberação exacerbada de dopamina pelo cérebro... Por isso a alimentação que prioriza baixa carga glicêmica faz com que tenhamos mais saciedade e, consequentemente, menos fome. Além disso, áreas de prazer são ativadas via liberação de endorfinas ao realizarmos atividades físicas... Ou seja, o serviço está completo! 


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