Já tem algum tempo que eu venho pensando em escrever um texto menos informativo e mais relacionado à colocação profissional dos professores de Ed. Física. Isso tem me incomodado desde a faculdade, quando me deparei com a existência de alguns estereótipos extremamente equivocados. IMC pra contratar um professor de academia? Testes físicos pra ‘aceitar’ um personal trainer em uma equipe? E o estereótipo do ‘bombado cabeça-de-vento’? Da ‘gostosa burra’?
Olhemos o outro lado: O governo quer retirar a obrigatoriedade da EF escolar a todo custo. Passamos 4 anos na faculdade, inúmeros semestres dedicados à compreensão de um processo desenvolvimentista e psicomotor. Aprendemos a importância do elemento lúdico durante o processo de ensino-aprendizagem, o papel do estímulo motor no desenvolvimento cognitivo, afetivo e intelectual e que boas intervenções psicomotoras podem auxiliar a minimizar o impacto de déficits de aprendizagem e continuam nos relegando o papel de ‘jogar bola’. Vimos que intervenções com exercício é tratamento não-farmacológico pra doenças crônicas e podem atenuar o curso de doenças degenerativas. E ainda nos julgam pela quantidade de massa muscular acumulada ao longo de sessões de 3 séries de 10.
Falo como alguém que construiu o amor pela profissão dia após dia. Não entrei na faculdade de EF por ser uma exímia atleta, muito pelo contrário, não possuo aptidão alguma para atividades pré-desportivas. Tampouco me enquadro no estereótipo de ‘maromba’. Aprendi a amar o movimento pelo seu papel terapêutico e desenvolvimentista em todas as esferas da vivência humana, em todas as faixas etárias. E aí você tenta mudar essa concepção unilateral da Educação Física, mas aos poucos se depara com dificuldades dentro do seu próprio ‘nicho’. De tempos em tempos surgem ‘modinhas’, dietas e treinos novos que, frequentemente vêm acompanhados de um novo ‘ícone fitness’... E estamos em um momento que realmente me causa arrepios.
Dediquei 10 anos para terminar o doutorado (entre graduação, mestrado, estágio no exterior e doutorado). Estou trabalhando com o ensino superior desde 2008. Venho tentando ostensivamente modificar essas concepções em minha sala de aula por acreditar que a EF está além da hipertrofia. De repente me deparo com expressões como “#fikagrandeporra”; “#esmagaquecresce”; ” #meuovo”... E de um profissional!
Como construir uma profissão com responsabilidade e respeito? Como lutar contra um sistema que relega o papel do profissional de Educação Física e restringe sua atuação à mediocridade? Como mostrar que nossos 4 anos de estudo envolvem um processo que integra a bioquímica, genética, citologia, cinesiologia, biomecânica entre outras habilidades pra obter um resultado de hipertrofia se você resume todo o seu estudo em #esmagaquecresce? Como construir uma nova concepção de alto rendimento em discussões enriquecedoras se você diz àqueles que discordam de você #meuovo? Sinceramente, com essa concepção estamos nos distanciando cada vez mais de elevar nossa profissão ao patamar de EDUCAÇÃO física.
Imagina se o seu médico usar a hashtag #saralogoporra? Em nenhuma outra profissão eu vejo tamanha falta de profissionalismo ao remeter a rotina de trabalho diária. Nenhuma... Fibrado? De onde saiu isso? Provavelmente de uma biopsia muscular que permitiu a analise miofibrilar por fotomicrografia, certo? ERRADO... Neologismo extremamente inadequado pra ser utilizado como sinônimo de ganho de massa associado a perda de gordura corporal. Não faz sentido!
Enfim, em meu papel de educadora (e não de marombeira) me sinto na obrigação de dizer aos meus alunos que é preciso fazer-se respeitar para lograr uma posição de destaque dentro do quadro de profissionais da área da saúde. É preciso ganhar conhecimento, arrumar o vocabulário e aí sim, sair das sombras da medicina e efetivamente assumir nosso lugar junto às intervenções desenvolvimentistas, de prevenção, tratamento e também de alto rendimento. Do mais, continuo fazendo meu ‘trabalho de formiga’ dentro de uma concepção que acredita que a EF ainda não descobriu (e não mostrou pro mundo) o tamanho de seu potencial.
A ideia deste texto é fomentar discussões acerca da nossa colocação profissional. Alguns irão ler e formarão novas opiniões, certamente visando melhorar nossa atuação, outros não irão ler... E tem aqueles que vão ler e ao final pensar #meuovo.
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