Nosso corpo é como um carro: funciona com o abastecimento! A produção de energia para a realização de um exercício físico se dá a partir da “quebra” de uma molécula de ATP (adenosina trifosfato), que funciona como o combustível para a contração muscular. Entretanto, existem 3 principais vias de produção dessa energia a partir do ATP:
1. Sistema do metabolismo anaeróbico alático (sistema ATP-CP): É a maneira mais rápida de produzir uma boa quantidade de energia e, sem a produção de lactato. Entretanto esta via não pode ser sustentada por muito tempo, sendo a via predominante nos primeiros segundos de uma atividade.
2. Sistema do metabolismo anaeróbico láctico (glicólise): É uma maneira bastante rápida de produzir energia sem a presença de oxigênio, contudo, leva à produção do lactato.
3. Sistema de metabolismo aeróbio: Produz uma quantidade constante de energia em longo prazo sem a produção de lactato. Este metabolismo consegue sustentar o exercício por um longo período de tempo, entretanto a intensidade do esforço é menor do que a intensidade possível nos sistemas anaeróbios.
No metabolismo anaeróbio lático, o lactato é o produto final da degradação da molécula de glicose (açúcar) utilizada para a produção de energia (ATP). Isso ocorre porque não há oxigênio (O2) suficiente para o sistema de metabolismo aeróbio. O Piruvato produzido pela glicólise (veja figura abaixo) em presença de O2 daria início ao ciclo de Krebs (metabolismo aeróbio). Na ausência de O2, o Piruvato sofre fermentação transformando-se em Lactato.
Entretanto, apesar de ser uma importante fonte energética por conseguir produzir de maneira rápida uma quantidade de energia utilizada por nós em atividades de alta intensidade, a produção de lactato acaba limitando o uso do metabolismo anaeróbio lático. Isto ocorre porque ao longo do processo de produção de energia há um acúmulo gradual desta substância nos músculos. Nossas células necessitam de condições de Ph ideais para realizarem a contração muscular e com o acúmulo do ácido lático pode ocorrer uma hiperacidez, que causa dor e desconforto logo após o exercício. Por este motivo é comum que em atletas de alto rendimento seja realizada periodicamente a determinação das concentrações do lactato sanguíneo. Esta medida permite avaliar qual o nível do esforço que está sendo realizado para uma determinada concentração de acidez metabólica que está sendo produzido. Em outras palavras: Quanto maior o esforço que eu preciso realizar pra uma determinada tarefa, maior será a produção de lactato.
A concentração de lactato no sangue normalmente é de aproximadamente 1,0 mmol/L a 1,8 mmol/L. Este lactato produzido continuamente é metabolisado pelo fígado. Quando ocorre um aumento na intensidade do exercício físico, ocorre o aumento na produção do lactato e o fígado já não consegue manter o equilíbrio entre produção/remoção (passa-se a produzir muito mais rápido do que o fígado consegue remover). O aumento da concentração do lactato no sangue é utilizado como um índice, o limiar anaeróbico (LAN).
O LAN é determinado a partir de sucessivas coletas de lactato durante a realização de exercícios progressivos (a medida que vai aumentando a intensidade do esforço, são realizadas coletas de amostras de sangue para medir a concentração do lactato). Desta maneira, é possível determinar a carga de esforço correspondente às concentrações de lactato. Existem índices pré-estabelecidos para se determinar o limiar anaeróbio. É interessante consultar a literatura disponível de acordo com cada esporte. Estudos com ciclistas (Figueira et al., 2004) e nadadores (Pereira et al., 2002) utilizaram as concentrações fixas de 3,5mMol como limiar, enquanto que para corredores de endurance sugere-se o limiar de 4mMol (Denadai et al., 2003), por isso é sempre bom buscar referências para a modalidade de escolha!
Esforços entre 50-75% do VO2máx não demonstraram aumentar significativamente os valores de lactato em relação ao repouso (Denadai, 1995), isto significa que ao encontrar a carga de trabalho correspondente ao LAN, sabe-se que o trabalho está sendo realizado em alta intensidade. Veja o exemplo abaixo:
Note que quanto maior o VO2máx (e consequentemente maior esforço), mais o lactato é acumulado. Também é importante destacar que, para indivíduos não treinados (untrained) o lactato se acumula antes que para indivíduos treinados (trained). Isso porque para um indivíduo treinado o limiar de esforço percebido é diferente em comparação ao indivíduo não-treinado.
Quanto mais realizamos esforços que demandam o metabolismo anaeróbio lático (exercício intermitente, curta duração em intensidades acima do LAN) mais o atleta consegue suportar o desconforto resultante do aumento da acidez e sustentar o esforço por mais tempo, podendo atingir maiores intensidades ao longo do treinamento.
Assim, a dosagem de lactato pode auxiliar no planejamento de treinamentos em intensidades mais adequadas à demanda metabólica para cada tipo de esporte. Além disso, o treino que auxilia na capacidade de suportar maiores concentrações de lactato, permite melhora na performance.
Quem quiser saber mais sobre esse assunto, recomendo o artigo do professor Benedito Sérgio Denadai (1995) - Liminar Anaeróbio: Considerações Fisiológicas e Metodológicas
Bons Estudos!!!!
vlw professora esclareceu muito bem minhas duvidas como agora ja sei como classificar o tipo de ácido lático que é o da glicóse, o ideal seria uma dieta com um repositor de glicose e treinos mais intensivos?
ResponderExcluirBom dia professora:
ResponderExcluireu não consegui achar a nossa matéria, por favor me da uma luz.
eu gil, meu e-mail é: gildevaualves@uol.com.br